vendredi 28 janvier 2011

Espontaneidade

A idéia desse blog surgiu de um anseio por partilhar pensamentos, imagens, musicas e viagens que me surgem à mente em meio à correria cotidiana. Dentro do ônibus ou a pé, a cidade incita reflexões que muitas vezes se perdem na rotina, escoam pelo ralo, varridas pelo ”rodo cotidiano” (O Rappa).

Pois bem, na última quinta-feira, a caminho da minha aula de especialização em saúde mental, passo em frente ao Parc Royale. Incrustado no centro de Bruxelas, é freqüente ver pessoas corajosas e zelosas por sua saúde fazendo jogging. Confesso que sinto um pingo de inveja dessas pessoas que conseguem separar um tempo de sua vida pra isso. Às vezes também penso que só podem ser pessoas muito desocupadas para que estejam correndo no meio da tarde de uma quinta-feira. Invejo a sorte delas! Ou não...


 
Mas esse não é o tema deste post. Pensei nele ao recortar uma cena curiosa deste momento singelo. Um grupo de crianças estava chegando ao parque, logo ao pisar na entrada, obviamente puseram-se a correr.
                                   

O ato é o mesmo: correr, mas existe uma diferença considerável entre as duas ações. Um adulto pratica a corrida como parte de uma atividade do seu dia, algo planejado, inserido na sua agenda. É uma obrigação que pode até lhe dar prazer, pode até ser um momento em que ele se sente bem e em liberdade, mas está enquadrada dentro de regras, roupas específicas, tempo cronometrado, postura correta, respiração em um ritmo correto, alongamento antes e depois.


A criança sabe que não pode correr em qualquer lugar, mas quando ela percebe que está autorizada a correr não pensa na roupa, na respiração, no alongamento, na postura. Ela corre. E corre com um sorriso no rosto, não com a seriedade de quem está concentrado em uma atividade. Aliás, para a criança, correr não é uma atividade, é uma brincadeira. É o momento em que ela pode deixar fluir toda sua energia, ela interage com outras crianças (mesmo que não conheça), se diverte. Nesse momento ela não se sente livre, ela é livre, livre para agir com toda sua espontaneidade, com toda sua criatividade, sem sentir vergonha ou receios, afinal, seus pais autorizaram que ela corresse.

Pesquisando um pouco sobre a espontaneidade, não poderia deixar de me remeter a Jacob Levy Moreno:

Encontrei um texto interessante sobre ele em um site:

Nele, a autora explica que, segundo Moreno: A espontaneidade, a criatividade e a sensibilidade são recursos inatos do homem. Desde o início ele traz consigo fatores favoráveis ao seu desenvolvimento, porém estes podem ser perturbados por ambientes ou sistemas sociais constrangedores.” E ainda: O homem nasce espontâneo e deixa de sê-lo devido a fatores adversos tanto do ambiente afetivo-emocional (Matriz de Identidade e átomo social), quanto do ambiente social em que a família se insere (rede sociométrica e social)”.

Pois bem, a sociedade nos impõe um engessamento, um enquadramento de nossas ações.  Obviamente que se queremos viver em sociedade temos regras a obedecer, temos formas de conduta, normas de comportamento. 

Não digo aqui para ninguém sair correndo loucamente pelas ruas da cidade, você pode ser preso ou internado. Mas fica a reflexão sobre de que forma estamos ocupando nosso tempo, e de que forma deixamos nos limitar, encarcerando nossa criatividade e nossas possibilidades de ação no mundo em regras determinadas socialmente. Não defendo a loucura, mas sim o desassossego, a energia criativa que nos permite não nos acomoda